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No meio do deserto do Saara uma civilização respirava ouro no século XI. De pastores para senhores poderosos e influentes que dominavam a economia local, a história do poderoso Reino de Gana é algo que você vai encontrar aqui.

A história dos homens no Saara é antiga. Populações ocupam o enorme deserto desde pelo menos o primeiro milênio antes de Cristo. São povos berberes que vivem de pastoreio e conhecem onde há Oásis, áreas isoladas de vegetação e água. Nos meses mais duros e secos, migraram para o Sael, uma área mais nas “beiradas” do deserto onde os índices de chuva permitem a agricultura. Nesse momento, faziam trocas com mercadores locais. 

A jornada pelo Saara é complicada. Além de todas as dificuldades relacionadas à temperatura que são escaldantes durante o dia e congelantes durante à noite, a travessia envolve pelo menos 14 dias sem nenhuma gota de água próxima. Apenas com o uso de camelos – um animal do Oriente introduzido na África – a conquista e travessia do Saara foi possível. 

Um desses povos que viviam de pastoreio no ambiente árduo do deserto eram os soninquês. Os soninquês ocupavam as regiões entre os rios Níger e Senegal. Os vários ataques que sofriam acabaram organizando politicamente essa civilização que passou a, inclusive, levantar muros em suas cidades. 

O nome do reino vem da palavra que era dada ao seu governante: Gana. Gana era, literalmente, o senhor do ouro. Essa região que os soninquês se instalaram é uma das mais ricas em ouro no mundo. E não tardou para o povo começar a minerar incessantemente essa riqueza. Há uma discussão se Gana era um reino ou um império. Mas impérios possuem claras intenções expansionistas, algo que não é reconhecido pela maioria dos estudiosos da área.

Esse reino não estava preocupado em aumentar suas terras e conquistar militarmente povos vizinhos. Nem havia tantos povos vizinhos, o reino de Gana ficava no deserto. A preocupação era aumentar a sua riqueza – por meio da mineração e das trocas com vários mercadores – pois aqui estão os principais entrepostos comerciais entre o Norte da África, a região chamada de Magrebe em que as populações tendem a ter um perfil mais árabe e islâmico, e o Sul da África onde as populações são negras e de religiões mais antigas.

Desde o século 8 mercadores oriundos de cantos distantes do Oriente Médio e da Ásia utilizam esses entrepostos comerciais em suas longas rotas. Tanto para vender e comprar objetos, como uma parada estratégica na exaustiva jornada que era a travessia do Saara. Pois não somente o ouro que trazia mercadores para esse local. O Reino de Gana também era conhecido por outros produtos: escravos e sal.

Os escravos, em sua maioria, eram obtidos por meio de guerras e serviam para fortalecer o exército, na mão-de-obra e haréns. A escravidão na África era muito diferente da escravidão na América, e lá eles podiam ocupar cargos no exército e no funcionalismo público. O sal era obtido em enormes depósitos que existem no deserto. Outro produto que tinha seu valor. 

Escavações na região indicam que as transações comerciais envolviam conchas, pedras preciosas, cavalos, tâmaras e até porcelana chinesa. De longe, durante 400 anos, o Reino de Gana foi o mais próspero da África e um dos mais ricos do mundo inteiro.

Al-Bakri, um geógrafo espanhol, escreveu no século XI que o Gana tinha total poder sobre todo o ouro que entrava e saía, garantido que o metal precioso não perdesse seu valor. As estimativas são assustadoras. Números variam de 2 até 9 toneladas de ouro por ano que saíam do Reino de Gana e eram espalhadas pela Ásia e Oriente Médio por meio de trocas comerciais. Para se ter uma comparação. No século XVII, a região de Minas Gerais obteve cerca de 1 tonelada de ouro por ano no seu auge. E o ouro brasileiro não teve 4 séculos de história como teve o ganês. 

A região não era apenas do Reino de Gana. Os berberes também eram importantes na região. Os nômades de aparência moura controlavam as rotas comerciais e os oásis tão importantes para a travessia. Também comercializavam sal, um objeto que podia ter o valor superior ao do ouro. Tanto por sua importância na conservação dos alimentos como na dieta de povos desérticos por auxiliar na retenção de água. 

A linhagem mais poderosa de bérberes nessa época eram os azenegues. Eles dominavam todo o Saara montados em cavalos ou camelos e protegendo o rosto dos ventos e da areia com o tradicional véu árabe, o litham. 

Apesar de tudo, a convivência entre o Reino de Gana e os berberes era pacífica. Seu interesse mútuo era garantir que as rotas comerciais continuassem funcionando. E havia diferenças gritantes entre os dois poderes locais. O Reino de Gana era negro e não havia se convertido ao islamismo, continuando suas crenças mais antigas. Os berberes eram mouros – um povo mais próximo do árabe – e eram convertidos ao islamismo. 

O século XI é o auge do Reino de Gana. Disputas internas fazem uma cidade rival, Audagoste, enfraquecer e ser dominada. Koumbi Saleh, a capital, é o maior poder do Saara junto com os berberes. Os mais de 20 mil habitantes da capital convivem com artesãos e mercadores oriundos do mundo inteiro enquanto tambores anunciam que o rei corta a cidade sendo levado por servos e adornado com pesadas jóias de ouro. 

A queda do Reino de Gana tem ligação com a jihad, a guerra santa islâmica. Yahia ibn Ibrahim, um poderoso senhor bérbere, viajou até Meca em 1035 e percebeu que o seu povo não era islâmico o tanto quanto ele desejava. Ele então levou um sábio, Abdallah ibn Yacine, para que o costume do seu povo fosse ajustado. Muitos foram os insatisfeitos com esses ajustes e após a morte do senhor berbere, Yacine foi expulso junto com os seus seguidores. 

Eles formaram uma nova coalização – os almorávidas – e depois se fortaleceram para derrotar os azenegues. E depois de derrotar os azenegues, começaram uma guerra contra o Reino da Gana. Houve um enfraquecimento dos ganeses que seriam conquistados pelos sossos no século XIII. Os sossos, os songais e os malis disputaram o poder na região nos séculos seguintes. Mas isso é outro vídeo. O povo soninquê ainda vive espalhado pelos atuais Mali, Mauritânia, Senegal e Gâmbia.