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Poucos líderes colocam mais medo na oposição do que Vladimir Putin. E não é à toa, os opositores ao líder da Rússia tem uma tendência sombria de morrerem ou falirem. A cultura stalinista de exterminar a oposição germinou e deu frutos. A polícia política responsável por lidar com a oposição, a KGB, se tornou a FSB. Mas até onde a mudança de nomenclatura ocasionou a mudança de comportamento?

Alexan­der Litvinenko e Anna Politkovskaya, um ex-espião da KGB que se aliou a um inimigo do Putin e uma jornalista que denunciou os horrores dos campos de concentração na Chechênia, são exemplos claros da política de extermínio direto praticado pelo homem que está a frente do poder na Rússia desde 1999. Isso, faz 21 anos. Mas ele não precisa mandar matar a oposição. Ele muitas vezes apenas os prende e, se os liberta, eles se tornam párias, pois ninguém vai ter vontade de contratar alguém na mira do homem mais poderoso da Rússia.

Bill Browder, um americano que tentou investir dinheiro na Rússia, sentiu o poder de Putin. É da política de Vladimir que seus associados e próximos dominem a economia. 39% de toda a economia russa estão na mão de 22 pessoas, todas próximas a ele. Bill conseguiu lucrar muito com o negócio de petróleo na Sibéria, mas assim que surgiu como um ponto no radar, ele foi perseguido. A burocracia era mais lenta, os impostos mais pesados, as ameaças aos russos associados a ele eram constante. Você não prospera na terra do Novo Czar sem que ele queira.

As ameaças a Bill Browder e seus associados não eram um exagero: o advogado do empresário na Rússia, Sergei Magnitsky, não quis deixar o país e foi preso. A empresa petrolífera de Bill havia descoberto um roubo gigantesco (mais de 5 bilhões de rublos) da burocracia contra sua empresa. E, preso, Sergei continuou reafirmando os crimes praticados contra a indústria estadunidense na Sibéria. Diagnosticado com pancreatite, cálculo biliar e coleciscite, precisava passar por uma cirurgia. Mas o governo de Putin não autorizava o atendimento médico. Pouco tempo depois, Sergei morreu e o governo alegou que a causa da morte foi de “insuficiência cardíaca aguda”, o que não explica as várias lesões, hematomas e pústulas. O jovem de 37 anos foi apenas mais um aviso. E não adianta fugir, a FSB tem acesso a maioria dos países com enorme facilidade.

Recentemente, Putin decidiu aumentar seus poderes. Ele alterou a Constituição e o maior destaque é ele poder se reeleger mais duas vezes: podendo ficar no poder até 2036. Se ele estiver vivo nessa data, terá mais tempo no poder do que Stálin teve na URSS. Os altos cargos públicos ficam completamente “russificados”, pois para os maiores cargos, inclusive presidência, a pessoa não pode ter cidadania estrangeira e nem, em nenhum momento da vida, ter residência em outro país. Há inclusive algumas mudanças em que o Poder Executivo (ele) tem mais poderes e condições de escolha. Toda a legislação nacional terá prioridade com relação a legislações estrangeiras, o que deve criar atritos com a OMS, ONU, OMC e outros. Mas isso não é o mais interessante: entre as mudanças culturais, a emenda coloca a Federação Russa como continuação e herdeira da União Soviética (URSS) e estabelece que o legado cultural do antigo país e a “cultura milenar” do povo russo devem ser preservados.

Os crimes do Socialismo

O século XX inaugurou categorias absurdas de crime, crimes que não vão contra indivíduos específicos, mas, para usar as palavras do procurador geral francês no famoso julgamento de Nuremberg contra os nazistas, vão de encontro à negação de “todos os valores espirituais, racionais ou morais (…) visa devolver a Humanidade à barbárie, não mais a barbárie natural e espontânea dos povos primitivos, mas a barbárie demoníaca, já que consciente dela própria e utilizando para os seus fins todos os meios materiais postos à disposição dos homens pela ciência contemporânea”. Os absurdos do século XX começam em 1915 com o famoso Genocídio Armênio cometido pelos turcos otomanos. A conta é devastadora e não para neste evento: duas guerras mundiais com direito aos primeiros bombardeios nucleares e um novo tipo de guerra que visa eliminar completamente o adversário, porém, nenhum evento foi mais nefasto que o advento do socialismo.

A Revolução Russa dá início ao primeiro experimento de uma nação socialista,que infelizmente seria seguida com sucesso por vários países. A funérea experiência que germina em muitos outros países gera um novo tipo de Estado, um Estado contra o povo. A partir daqui será lícito perseguir, desapropriar, torturar, deportar e matar os cidadãos em nome de um bem comum, que é necessariamente o bem dos membros do partido. Antes de Hitler sonhar em matar os judeus nas terríveis câmaras de gás, Lênin mandou fuzilar os homens de uma etnia inteira, devastar suas vilas e deportar mulheres, crianças e idosos para regiões inóspitas em ambientes selvagens. Pobres cossacos que caíram no esquecimento do rol de loucuras do século XX. Enquanto Hitler era apenas um pintor fracassado com aspirações megalomaníacas, Lênin fuzilou dezenas de milhares de reféns oriundos do antigo regime, além de inúmeros massacres em resposta às revoltas e greves dos trabalhadores entre 1918 e 1922. Os seguidores de Lênin em toda Ásia, África e Europa não fariam feio, mas em virtude da memória dos 100 anos de Revolução Russa, vamos nos ater aos russos soviéticos.

O Tribunal de Nuremberg de 1945 tratou pela primeira vez os crimes contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. É um desafio muito extenso elencar cada crime cometido pela União Soviética nos seus vários anos de existência, então vamos nos ater aos conceitos e mostrar a violação por parte dos soviéticos.

Crime contra a paz foi definido como “direção, preparação, início ou prosseguimento de uma guerra de agressão, ou de uma guerra de violação de tratados, garantias ou acordos internacionais, ou a participação de um plano concertado ou num complô para a consecução de qualquer um dos atos precedentes”. No famoso pacto de não-agressão com a Alemanha Nazista, não somente a União Soviética participava de forma passiva do começo de uma série de agressões por parte dos alemães, como no mesmo tratado era tramado a dilaceração da Polônia e a anexação dos Países Bálticos, da Bucovina e da Bessarábia.

Crime de guerra foi definido como a “violação das leis e costumes da guerra. Essas violações compreendem – sem estarem limitadas a isto, porém – o assassinato, maus- tratos ou deportação de prisioneiros de guerra e de pessoas no mar, a execução de reféns, a pilhagem dos bens públicos ou privados, a destruição sem motivo de cidades e povoados ou a devastação não justificada por exigências militares”. Em 1939, Stálin mandou executar todos os prisioneiros militares poloneses, o famoso massacre de Katyn. Centenas de milhares de prisioneiros alemães faleceram nos campos de concentração soviéticos vítimas de maus-tratos e condições desumanas de trabalho, além de inúmeras mulheres alemãs estupradas pelos soviéticos. O fuzilamento de reféns, burgueses e nobres nos primeiros anos da União Soviética por Lênin. A deportação de movimentos de resistência ao socialismo soviético. Mas o ponto foi provado e vamos seguir para o mais atroz de todos os crimes, o contra a humanidade.

Crime contra a humanidade é definido como “o assassínio, o extermínio, a escravidão, a deportação e todo ato inumano cometido contra toda e qualquer população civil, antes ou durante a guerra, ou ainda perseguições por motivos políticos, raciais ou religiosos, quando estes atos de perseguição forem cometidos em sequência de todos crime que entre na competência do tribunal (de Nuremberg), ou que seja ligado a este crime, quer violem ou não o direito do país onde foram perpetrados”. André Frossard definiu como: “ Há crime contra a humanidade quando se mata alguém sob o pretexto que ele nasceu”. Um dos braços direitos e maiores homens da Revolução Russa que chegou ao posto de liderança dentro da política secreta soviética, Latzis, foi muito claro aos seus homens sobre quem deveria ser eliminado: “Nós exterminamos a burguesia enquanto classe. Não procurem, na investigação, documentos e provas do que o acusado fez, em atos ou palavras, contra a autoridade soviética. A primeira questão que vocês devem colocar-lhe é a que classe ele pertence, qual a sua origem, sua educação, sua instrução, sua profissão”. O inimigo deve ser exterminado e ele é definido por nascimento. A classe não é algo que você adquire, mas uma marca que você herda dos pais. E mesmo assim, esse conceito é muito flexível. É considerado kulak – uma pessoa com um pouco mais de propriedades dentro do sistema do leste europeu – quem é interessante que seja kulak para as autoridades soviéticas. Os cossacos foram fuzilados e deportados e seu crimes eram ser quem eles eram. Os poloneses foram duramente perseguidos e acusados de serem kulaks ou agentes espiões inimigos, sendo mortos e deportados pela razão de serem poloneses. O Holodomor matou cinco milhões de ucranianos de fome durante poucos meses de inverno, fruto de uma confiscação criminosa de grãos e alimentos, confisco que durou por todo o inverno de 1932 para 1933 combinado com a proibição da entrada ou comércio de qualquer gênero agrícola ou animal. O massacre dos ucranianos resultaria na morte de 14,7 milhões de ucranianos mortos por fuzilamentos ou deportações – feitas a pé ou em comboios de animais lotados – para regiões hostis onde a fome, o frio e a selvageria prevaleciam. O crime? Ser ucraniano. Não eram somente os nobres, os burgueses ou os intelectuais – e para estar aqui basta que o agente soviética queira que você esteja – que foram perseguidos mas as populações polonesas, alemãs, ucranianas, baltas, búlgaras, moldavas, tártaras, curdas, chechenas, inguches, e, inclusive, coreanos que residiam no extremo oriental da União Soviética. Umas perseguidas de forma mais aberta e violenta do que outras.

Esses crimes foram cometidos pelos dirigentes do Partido Comunista da União Soviética. Violações de forma consciente e clara, não podendo ser explicadas, como alguns querem, de forma “acidental” ou por algum outro fenômeno histórico ou climático do período. Aliás, um dado interessante é que nenhum país não-socialista sucumbiu a um processo de fome capaz de matar dezenas de milhares de pessoas desde 1918. Sim, a Etiópia e o Moçambique não são exceções. A fome é uma arma poderosa nos regimes socialistas. Os economistas podem até provar a impossibilidade do sistema socialista de prover riqueza, mas essa não é a única explicação para a escassez de alimentos. Fome é uma arma usada para agraciar os obedientes e punir os desobedientes nesses sistemas.

A Espiã Vermelha

A culpa dos soviéticos terem conseguido tão rápido reproduzir uma bomba nuclear é das mulheres. Melhor, de uma mulher: Melita Norwood, a maior espiã da KGB na Inglaterra. O fato dela da idosa ser uma espiã causou susto nos vizinhos e na filha. Ela só foi descoberta e exposta nos anos 90, quando arquivos secretos da KGB vieram ao público.

Norwood trabalha como secretária em uma indústria britânica chamada Non-Ferrous Metals Research Association que era uma fachada para a pesquisa de urânio enriquecido e fabricação de armas nucleares com apoio dos EUA. Sua missão? Fotografar documentos secretos sem que ninguém visse e passar a câmera para seu contato soviético. A agente Hola, seu codinome na KGB, já disse em várias entrevistas que fez o que fez não por dinheiro, mas por acreditar no sistema socialista e anseiar por um mundo melhor. De fato, quando ela foi condecorada com a Ordem do Estandarte Vermelho em 1979, uma das maiores premiações soviéticas, ela negou o dinheiro que vinha junto com a medalha.

Analistas acreditam que a influência da britânica adiantou em pelo menos 5 anos a criação de um artefato nuclear por parte da URSS e foi essencial para mantê-la como uma potência bélica no contexto da Guerra Fria.

O mais interessante é que nos anos 30, logo no começo da carreira de Norwood, uma agente da MI5, os espiões britânicos, suspeitou do trabalho de espionagem de Melita. Mas seu superior não levou a sério, pois de acordo com ele “mulheres não dão boas espiãs”. 

Espero que nosso leitor Arthur tenha gostado dessa leitura sobre espiões. Foi seu pedido.