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Olá, filhos dos deuses. Vocês já se perguntaram por qual razão precisamos fazer vídeo explicando “a real história” por trás de personagem X ou Y? Por que as pessoas criaram e criam personagens que não existem? O que são sagas e qual sua diferença para a História?

Se você buscar em um dicionário, saga pode ser definido como “narrativa mitológica, lenda histórica ou literária”.  A palavra vem do francês e naturalmente é usada para as estruturas lendárias dos escandinavos, como a Gesta Danorum, o Conto dos Filhos de Ragnar, a Canção de Nibelungos, a Epopéia de Gilgamesh e etc. mas a história humana está repleta de heróis lendários. Faz parte de uma estrutura mental comum das civilizações criar grandes personagens do passado que tinham poderes e capacidade sobre humana. Gilgamesh na Mesopotâmia, Hércules na Grécia, Sigurd na Escandinávia, Viriato na Lusitânia e inúmeros outros. Perceba que não é necessário que o personagem seja fictício para estar em uma saga.

Sim, muitos nunca existiram de fato, mas Viriato, por exemplo, existiu. Foi um bravo celta que resistiu a ocupação romana. A grande questão é que ao contar a história de personagens reais que viraram heróis, os contadores dessa história colocam elementos sobrenaturais e fatos que nunca existiram para que eles ganhem esse contorno quase de um deus. Independente do local e do tempo, a raça humana cria heróis. É mais uma das estruturas do chamado Arquétipo Universal de Jung. Esse conceito criado por aluno de Freud explica que como somos a mesma espécie, temos estruturas de pensamento comum e acabamos chegando a conclusões e conceitos comuns independente de onde estivermos. 

O herói e as sagas, sejam com personagens reais ou fictícios, possuem muitos elementos comuns: geralmente o herói possui uma relação mais próxima com os deuses, seja por ser filho ou por ser, de alguma forma, um escolhido; eles possuem características humanas, mas de forma exageradas, até, muitas vezes, os sentimentos dos heróis são exagerados: raiva, ética ou honestidade em níveis não-humanos; eles estão acima da lei e das regras que regem os homens e isso acontece pois sua existência é capaz de influenciar o mundo material e sobrenatural de maneira que nenhum mortal poderia fazer ou mesmo entende. 

Os heróis e sagas também servem para outra condição básica humana: explicar alguns elementos da realidade que eles não conseguem explicar. Os irlandeses antigos explicam boa parte da sua geografia a partir de um herói-gigante chamado Fionn Mac Cumhaill. A própria Irlanda (uma ilha separada da Grã-Bretanha) foi uma tentativa mal sucedida do gigante acertar um adversário com uma grande porção de terra. Ele também construiu a chamada “Calçada dos Gigantes” que é uma estrutura de basalto que existe na Irlanda do Norte próximo da Escócia. 

Nas sagas Nórdicas, Ragnar Lodbrok seria da descendência de Odin, o maior deus dos nórdicos; já Sigurd ganhou suas capacidades sobrenaturais depois de se banhar com o sangue e comer o coração do dragão Fáfnir que ele matou com sua lendária espada Gram. Não existe uma receita e há enorme pluralidade dentro das sagas e heróis de um mesmo povo. E qual a relação da História para com isso? 

Mais do que dizer quem é real ou fictício, mais do que explicar o que dentro de uma saga pode ser confirmado com fontes e achados, é papel das ciências humanas explicar como essa narrativa faz sentido dentro dos códigos culturais específicos e como ela se relaciona com a psiquê daquela civilização. Viriato ser ovacionado como herói por ter lutado contra a ocupação romana explica muito da relação daquele povo com o Império Romano. 

Sigurd matou o dragão Fáfnir, Ragnar matou uma serpente gigantesca. Para os escandinavos, é importante suas lendas se provarem diante de feitos envolvendo a vitória sobre criaturas gigantescas. O que reflete muito sobre como um viking teria status e fama.

Bjorn Ironside, punho de ferro, por exemplo, é um personagem muito bom de se fazer uma rápida análise. O personagem é real. Bjorn foi um rei sueco, um dos invasores da Inglaterra, um explorador que chegou ao Mediterrâneo e fundador de uma dinastia poderosa na Suécia. Inclusive seu túmulo é conhecido.  Mas, como muitos vikings dessa época, o real se mistura ao fictício. Bjorn na saga escrita alguns séculos depois por Saxo Grammaticus se tornou invulnerável por ter bebido uma poção mágica e era filho de Ragnar com Aslaug, duas figuras fictícias.

Primeiramente, muitos alegam ser filhos de Ragnar. Era muito comum que grandes reis e líderes alegassem ser filhos de heróis lendários ou deuses para legitimar sua autoridade e poder. Muitos dos invasores vikings da Inglaterra alegavam ser filhos de Ragnar. 

A grande verdade é que sabemos muito pouco da vida de muitos grandes vikings como Bjorn por uma falta de documentação na época e por boa parte dessas histórias serem transmitidas por uma tradição oral que só vai passar para a escrita séculos e séculos depois. E, com certeza, aqueles que escreveram colocaram muito do que acreditavam naquelas páginas. Trabalhar com história e dizer para as pessoas que o personagem que eles gostam não existem ou que as coisas não são como elas pensam é chato, mas alguém precisa ficar com o trabalho sujo. 

Se vale de consolo, a lenda que você gosta pode ter milhares de anos e até hoje é contada e analisada, então, ele é mais verdade, em algum aspecto, do que a maioria das histórias e pessoas que nascem e têm fim sem deixar nenhum legado.

Quem foi Gilgamesh?

A Epopeia de Gilgamesh é a obra literária mais antiga do mundo e deve ter sido escrita por volta de 2000 a.C pelos povos sumérios. As obras de suposta autoria de Homero (Ilíada e Odisséia) só vão surgir cinco séculos depois. Os sumérios chamavam sua própria obra de Sha-Naqba-Imru que significa “aquele que viu as profundezas” e ela foi transcrita várias vezes por vários reis da mesopotâmia e até fora dela.

O trabalho literário-religioso trata da história de Gilgamesh, um rei de Uruk (uma das cidades sumérias) que buscava um elixir da imortalidade. Como é comum há muitas sagas e heróis, este rei possui laços com o divino, sendo filho da deusa Ninsuna.

A força e poder de Gilgamesh é proporcional a sua arrogância e crueldade. Ele é descrito como um déspota tão opressor e arrogante que despertou a ira dos deuses sumerianos. Para puni-lo, é criado Enkidu do barro e enviá-lo ao encontro do rei com o intuito de torná-lo menos presunçoso.

As aventuras de Gilgamesh e seu melhor amigo, Enkidu, são inúmeras e mostram um forte de laço de fraternidade, mas tem um final trágico: os dois acabam desrespeitando uma deusa que para puni-los mata Enkidu. Nesse momento, o rei de Uruk passa a perseguir a imortalidade de todas as formas.

Nas suas buscas ele entre em contato com um homem que supostamente era imortal e podia dá-lo essa benção: Utnaphitim, um homem que alcançou a imortalidade depois de sobreviver ao Grande Dilúvio das histórias sumérias. Esse imortal teria colocado toda sua família e vários animais dentro de uma enorme arca de madeira obedecendo a vontade dos deuses.

É dado algumas missões que Gilgamesh deve cumprir para obter a benção da imortalidade, mas ele fracassa nessas missões e as histórias terminam com ele voltando para sua cidade, Uruk, que ele governou por 126 anos.

Sigurd, o matador de dragões.

Sigurd é o maior dos heróis escandinavos e a protagonista na Saga dos Volsungos. O elo com o sobrenatural vem de seu pai, Sigmundo, ele era um poderoso guerreiro que acabou sendo morto pelo próprio Odin que estava disfarçado. O deus também estraçalhou a espada de Sigmundo cujos pedaços seriam herdados pelo filho.

Sigurd tem como tutor Regin, um homem sábio, cruel e extremamente ambicioso que vive envenenando a alma do jovem Sigurd para fazê-lo cometer violências contra outros nobres e tomar seus tesouros, mas é em vão. Regin é muitas vezes descrito como um anão, mas cuidado que os anões das histórias nórdicas não são necessariamente menores que os seres humanos e são extremamente inteligentes e versados em magias.

Nas suas aventuras, o jovem filho de Sigmundo conhece Odin sobre disfarce, mas ao contrário do pai, eles se tornam camaradas e inclusive o deus o presenteia: a poderosa montaria de Sigurd é Grani, descendente da própria montaria de Odin.

O grande feito de Sigurd começa com intervenção de Loki que mata um dos irmãos de Regin por acidente: o confunde com uma lontra. O pai e filhos exigem ouro em compensação pela morte do filho e Loki paga, mas o tesouro é amaldiçoado.

Fafnir, outro irmão de Regin, mata o pai para ficar com o tesouro todo para si. Para proteger melhor o tesouro que havia tomado sua mente (há um importante anel no tesouro e com certeza Tolkien deve ter tido influências dessa saga) Fafnir se transforma em um poderoso dragão.

Sigurd aceita matar o irmão de Regin e recuperar o tesouro, mas precisa de uma espada capaz desse feito. Regin, habilidoso como poucos na metalurgia, tenta fazer várias espadas que fracassam nos testes até ter a ideia de usar os restos da espada de Sigmundo para fazer uma nova espada. A nova espada é Gram – uma arma capaz de quebrar a bigorna em que estava sendo forjada.

Sigurd mata o dragão com sua poderosa espada e decidi banhar-se com o seu sangue. E o sangue do dragão o torna invulnerável a todos os ataques, exceto em um dos ombros em que uma folha caiu durante o banho e impediu que a substância mágica tocasse. Ele decide também beber um pouco desse sangue e ganha a habilidade de falar com os pássaros. Estes o avisam que Regin planeja matá-lo para ficar com todo o tesouro para si. O herói então mata Regin e come o coração do dragão, ganhando sabedoria.

Sigurd se apaixona por uma princesa, Brunhilde, mas outra mulher já estava de olho no matador de dragões, Gudrun. A mãe de Gudrun, Gremilda, faz uma poção mágica para fazer com que o portador da espada Gram esquecesse de Brunhilde e ele acaba casando com Gudrun. Mas os laços do destino uniam-o ao seu amor esquecido.

Guntário, outro filho de Gremilda, se apaixona por Brunhilde, mas precisará da ajuda de Sigurd. A princesa havia se isolado em um castelo cercado por fogo e só se casaria com um homem capaz de passar esse obstáculo. O herói então se disfarça como Guntário e com a ajuda do seu cavalo Grani eles conquistam a mulher para o seu cunhado.

Tempos depois Brunhilde descobre toda a farsa e busca vingança contra seus enganadores. Nesse contexto, Sigurd é assassinado por um irmão de Guntário enquanto dormia com uma lança no ombro que era vulnerável e Brunilde mata o filho de apenas 3 anos do herói, Sigmundo. A princesa que havia se isolado nas chamas ainda não sabia que o matador de dragões havia se apaixonado por ela e tinha sido forçado por mágica a esquecê-la. Ao descobrir, cria uma pira para Sigurd e decide se jogar nela.

Hércules, o filho de Zeus

Hércules é mais um dos muitos filhos de Zeus com mortais. Ou seja, é um semideus. E é odiado desde seu nascimento pela esposa divina do maior dos deuses, Hera.

Hércules além de um filho de deus, deveria ser rei de Micenas, pois essa seria a herança do bisneto de Perseu, outro herói grego e bisavô do semideus. Porém, Hera fez com que o outro filho que também cumpria esse requisito nascesse mais rápido, usurpando o torno no nome de Euristeu.

As tentativas da cruel deusa de fazer mal ao filho bastardo de Zeus não bastou, ela enviou duas serpentes venenosas para matarem a criança, mas Hércules não é o mais famoso dos semideuses a toa: ele estrangulou e matou as duas serpentes mesmo sendo um neném.

A mãe receosa pelo destino do filho decidiu deixá-lo na floresta longe dos olhares da deusa, mas por ironia do destino, Hera o encontra e o amamenta sem saber que ele era o filho bastardo de seu marido. Hércules cresce ainda mais forte por causa do leite da deusa que fica ainda mais brava ao descobrir a identidade do bebê.

Ele chama atenção: não somente pelo tamanho, mas pela força. Hércules é descrito como o homem mais forte do mundo. E tamanha característica chamou atenção do rei de Tebas que ofereceu a mão de sua filha, Mégara, com que o casal teve três filhos.

Hera envenena a mente do herói que mata seus filhos e sua esposa com as próprias mãos. Quando ele volta a sanidade, Hércules se isola de todos na floresta e passa a somente ter contato com o Oráculo de Delfos.

Hércules depois de um tempo passa a trabalhar para o primo que havia usurpado seu trono em Micenas, e como esse rei é amigo de Hera, ele planeja matá-lo. Ele dá doze tarefas impossíveis para o herói com a intenção de que ele morresse na tentativa de executá-los.

Matar o Leão de Neméia, matar a Hidra de Lerna, capturar o Javali de Erimanto, capturar a Corsa de Cerinéia, expulsar as Aves do Lago Estínfale, limpar os estábulos do rei Áugias, pegar o Touro de Creta, capturar os Cavalos de Diomedes, obter o cinto de Hipólita, pegar as Maçãs de Ouro do Jardim das Hesperíades e capturar o próprio Cérbero para o rei de Micenas.

O herói completa todas as missões que sempre envolvem o homem vencer a natureza: seja vencendo e dominando animais como leões e touros, como desviando o curso do rio para limpar os estábulos com 3 mil bois cujo odor era letal para todos os homens do rei Áugias ou cansando animais mais rápidos do que ele.

Quem foi Fionn Mac Cumhaill?

Fionn Mac Cumhaill deve ser o maior herói da Irlanda, também repercutindo nas mitologias da Escócia e da Ilha de Man. Ele é um gigante, guerreiro e caçador-coletor que estaria no passado longínquo dos antigos celtas que viviam ali e dos atuais irlandeses.

Fionn foi fruto de uma guerra. Seu pai havia raptado e engravidado uma filha de um líder vizinho e resultou em uma guerra em que seu pai morreu e sua mãe seria queimada pela própria família, mas fugiu para uma floresta e cuidada por uma druida que fez o parto do herói.

Ele é criado em uma floresta com os cuidados de um poderoso e antigo druida chamado Finnegas que passou anos tentando buscar um salmão cujo consumo o daria grande sabedoria. Quando Finnegas finalmente captura o salmão, ele ordena que o jovem Fionn o asse para ele. Como o jovem queima o polegar, ele põe o dedo na boca e ganha a sabedoria do salmão. O druida ao perceber que ele havia adquirido esse conhecimento, permite-o comer o salmão inteiro.

Os feitos grandiosos do herói começam quando ele livra seu povo de uma tribo inimiga que queimava o palácio dos Fianna em todo o festival de passagem de ano. Aillen era capaz de uma canção mágica que fazia os homens dormir e era capaz de baforar chamas. Ele fazia o povo de Fionn dormir e depois queimava seu palácio no Samhain.

O herói usou sua lança mágica para queimar a testa toda vez que estava adormecendo e uma vez que ele resistiu a mágica do inimigo, ele arremessou a lança contra o cuspidor de fogo e o matou. A partir de agora, começam inúmeras aventuras e feitos grandiosos.

A esposa de Fionn, Sadhbh, tinha sido transformado em uma corça por uma druida que havia sido rejeitado pela moça, Fear Doirich. Os cães do herói percebem que é uma humana e ela é levada para a casa do gigante e, chegando lá, ela se transforma em humana novamente. Somente naquela terra ela tinha a forma humana. Eles tem um filho rapidamente, mas como na história de Sigurd, o final é trágico.

Durante uma guerra em que o gigante estava afastado de casa, o druida Fear Doirich ataca as terras de Fionn e expulsa a esposa e o filho do herói, os dois na forma de corça. Fionn passaria a vida buscando sua amada, só encontrando seu filho que seria um grande herói entre os Fianna.

Na sua velhice, ele faz algo que terrível. Já como um herói condecorado e respeitado, ele ganha a mão da princesa de um dos maiores reis da Irlanda, Cormac Mac Airt, mas a jovem era apaixonado por outro homem. Eles fogem e Fionn os persegue por bastante tempo, mas depois fazem as pazes.

Posteriormente, o jovem que casou com a princesa, Diarmuid, e o gigante estavam caçando e o jovem se feriu. Fionn poderia curá-lo se ele fizesse-o beber água das suas mãos. Mas ele fazia a água vazar pelos seus dedos enquanto caminhava. Quando ele decide ajudá-lo, já é tarde demais.