alertapromo.com

A União Soviética foi o único país na Segunda Guerra Mundial a recrutar mulheres para o combate. E foi a sua mais sábia decisão: sobram histórias de mulheres incríveis que se tornaram heroínas e mostraram que o lugar de mulher é no tanque. No tanque de guerra. Hoje trazemos três histórias fantásticas: uma mulher que pegou todo o seu dinheiro para comprar um tanque e ir pro front para o combate para vingar seu marido, uma divisão de mulheres aviadoras que causaram tanto horror nas fileiras alemãs que foram chamadas de “Bruxas da Noite” e uma sniper com um enredo que inspirou um filme e uma música. 

MARIYA OKTYABRSKAYA, A VINGATIVA

Muitos soviéticos morreram em campo de batalha. O número chega a cifra de 12 milhões, que é o dobro das baixas nazistas. Mas cada pessoa responde a notícia da morte do ente querido de forma diferente. E Mariya responderia de forma explosiva. Seu marido morreu no começo do combate, em 1941, mas só em 1943 ela foi notificada da morte do esposo.

Sua reação? Pegar todas as economias e mandar uma carta para Stálin. Ela queria construir um tanque próprio. E queria manobrá-lo para vingar o marido morto. O sentimento de ódio e revanchismo à besta nazista era um sentimento comum ao povo russo, e a propaganda da esposa que vai retaliar aqueles que tiraram a vida de seu marido era forte. Seu desejo foi realizado. Os 50.000 rublos foram usados para construção de um tanque, e ela recebeu o treinamento necessário para guiar a fera de aço. O tanque batizado de “Namorada Guerreira” estreou com sucesso nos campos de batalha em 21 de outubro de 1943 em Smolensk.

A fama de imparável se alastrou por toda a União Soviética. Várias vezes o Namorada Guerreira era acertado e parava, mas Mariya fazia o impensável: saia do tanque e, no meio do fogo inimigo, colocava o tanque para funcionar e continuava o avanço. Constantemente desobedeceu ordens de retroceder diante da superioridade inimiga. Uma carreira militar meteórica. Promoções, status e visibilidade. A vingativa esposa parecia invencível. E o Comitê de Defesa do Estado soube utilizar bem como propaganda.

Em 17 de janeiro do ano seguinte, apenas alguns meses após o começo da sua carreira militar, sua sorte acabou. Na encarniçada reconquista de Novoye Selo, aconteceu algo que era corriqueiro: o Namorada Guerreira foi acertado por um projétil antitanque e, como de costume, a sargento Oktyabrskaya saiu para consertar o tanque e continuar o avanço. Ela consegue colocar o tanque para funcionar, mas é acertada na cabeça por um estilhaço de tiro de artilharia. A lesão levou ao coma e, poucos meses depois, ao óbito.

Mariya Oktyabrskaya foi a primeira mulher piloto de tanque a receber a maior honraria soviética, o título de Herói da União Soviética. O prêmio foi concedido em 2 de agosto de 1944, depois de sua morte.

AS TEMÍVEIS BRUXAS DA NOITE NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Foi bastante comum o uso de mulheres no Exército Vermelho soviético na Segunda Guerra Mundial. Ao contrário das potências ocidentais em que as mulheres serviram indiretamente – como enfermeiras, mecânicas, engenheiras e outros – na União Soviética havia não somente mulheres servindo ao lado dos homens, mas com divisões específicas.

Entre as inúmeras participações femininas, havia uma divisão aérea exclusiva de mulheres, o 588º Regimento de Bombardeiros Noturnos, que ficou conhecido como “Bruxas da Noite”. Esse regimento chegou a ter 40 duplas – cada avião precisava de duas pessoas, uma para pilotar e outra para soltar as bombas – e fez mais de 24.000 missões na situação mais precária. Os aviões Polikarpov Po-2 eram feitos de madeira e lona, fabricados nos anos 20 para fertilização de solo. A lentidão e a falta de altura dos aviões obrigavam os vôos a serem noturnos, para não serem vistos pelas unidades antiaéreas alemãs.

A falta de aparelhos de navegação e a falta de capacidade dos tanques de combustível exigiam ousadia das aviadoras. Elas voavam até perto do alvo, lá desciam para abastecer e depois iam para o alvo. Para não serem detectadas pelas tropas alemãs desligavam os motores e iam planando até o alvo para soltar as bombas. Chegavam, cada dupla, a fazer oito missões por noite. O barulho dos aviões planando próximo lembrava, de acordo com os alemães, com o barulho de bruxas voando com suas vassouras.

Nas 24 mil missões, despejaram 23 mil toneladas de bombas. Tiveram 30 baixas durante os 3 anos de guerra que combateram, e 23 pilotos foram condecoradas com o título de Heroína Soviética.

A MAIOR SNIPER DA HISTÓRIA.

A ucraniana Lyudmila Pavlichenko, estudante de História em 1941 quando os alemães invadem a URSS, se alistou no exército e foi a sniper mais letal da História com seu Mossin Nagent. A bela ucraniana tinha apenas 24 anos quando deixou os estudos pelo rifle. Era assídua nos clubes de tiro de Kiev e o responsável pelo alistamento tentou colocá-la na enfermaria, porém a insistência de Lyudmila a colocou na posição em que almejava: era uma das 2000 mulheres snipers do Exército Vermelho. Nos dois primeiros meses de ação, a estudante de História matou 187 alemães próximo a Odessa. Com a ocupação da região pelos nazistas teve que ser realocada para a Criméia onde acertou letalmente 257 alemães. Em maio de 1942 a tenente Pavlichenko tinha oficialmente dado 307 baixas ao exército alemão, mas saiu de ação por ter sido ferida por fragmentos de um morteiro. Das 2000 mulheres alistadas como snipers, ela seria uma das 500 que sobreviveram até o fim da guerra.

Lyudmila combateu com um rifle padrão das tropas soviéticas, o Mossim Nagent, com uma luneta. Das mais de 300 baixas que deu a Wehrmacht, 36 foram snipers inimigos e mais de 100 de oficiais alemães. Podia ficar até 18 horas imóvel em temperaturas congelantes esperando a melhor oportunidade de alvejar os nazistas sem ser notada.

A tenente se tornou uma heroína de guerra na URSS e ficou famosa no mundo inteiro, sendo a primeira cidadã da URSS a se encontrar com o presidente dos Estados Unidos. A esposa do presidente Roosevelt a convidou para viajar pelo país relatando sua experiência para os jovens. Havia enorme intenção desses relatos e experiência inflarem os espíritos dos jovens e dos burocratas a entrarem na guerra contra o nazismo, fato que se só ocorrereu depois do ataque japonês a base naval americana de Pearl Harbor. Rodou o Estados Unidos e o Canadá contando experiências e dando palestras, e nesse processo ganhou dois presentes valiosos: um rifle Winchester de mira óptica e uma pistola Colt semi-automática.

A heroína de guerra chegou ao título de major e passou o resto da guerra treinando os snipers soviéticos. Com o fim da guerra terminou seus estudos em História e trabalhou por anos como pesquisadora do Quartel-General da Marinha Soviética. Faleceu aos 58 anos de idade em outubro de 1974.

Há um filme intitulado “A Batalha de Sebastopol” que conta a história da sniper, e uma música escrita pelo cantor de folk norte-americano Woody Guthrie chamado de “Miss Pavlichenko”.