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O começo dos conflitos

O século XX foi terrível, mas muitas das maiores atrocidades que ocorreram nem sempre são divulgadas. O genocídio judeu, o Holocausto; e o genocídio ucraniano, o Holodomor; foram precedidos por um genocídio tão terrível quanto esses, mas bem menos conhecido. É hora de falar do Genocídio Armênio, o famoso Medz Yegher. Agora, ao vivo, no History to Go, o seu canal de História no YouTube.

1915 é o ano consensual para o começo de um massacre que teria cerca de 1,5 milhão de vítimas. No dia 24 de abril deste ano, 250 intelectuais e líderes políticos armênios foram presos e executados pelo poderoso Império Turco-Otomano na cidade de Constantinopla. 

O genocídio foi praticado de forma diferente para segmentos diferentes da população armênia. Os homens foram jogados nas tropas da Primeira Guerra Mundial e sujeitos a trabalhos forçados até à exaustão e morte; as mulheres, crianças e idosos foram exilados e colocados em marcha da morte no deserto Sírio. Essa população foi assediada por roubos, ataques sexuais e massacres, além de privação de água e comida pela escolta do exército que foi colocada para garantir o extermínio da população.

Além dos armênios, outros grupos étnicos e religiosos – como assírios ou gregos otomanos – também foram duramente perseguidos pelo Império Turco-Otomano, mas nenhum outro grupo nesse contexto foi tão duramente perseguido e, descaradamente, aniquilado como os armênios que chamaram esse evento de Medz Yegher. Uma palavra que em armênio quer dizer “Grande Crime”.

Os atritos entre os armênios e os turco-otomanos são mais antigos. Em 1909, houve um massacre que antecedeu o Grande Crime. O Império era gigantesco, englobava partes do Cáucaso, da Anatólia, dos Balcãs e do Oriente Médio, e inúmeras etnias e minorias faziam parte de forma conflituosa com os terríveis turco-otomanos.

A Primeira Guerra Mundial iria piorar e acirrar as relações com os armênios. Antes do extermínio e exílio dos intelectuais e líderes políticos em 1915, houve um atrito com a cidade de Van. Enquanto as lideranças turcas-otomanas exigiam 4.000 soldados, toda a população masculina, jovem e saudável, emitia uma ordem para buscar e confiscar todas as armas de fogo dessa e das cidades próximas. Estava claro para a população que havia uma tentativa de exterminar os homens e tirar toda chance da cidade se proteger.

A cidade de Van tentou negociar e reduzir o número de voluntários, já que a cidade também precisava da sua população masculina saudável e a reação do Império foi terrível. Jedvet, uma autoridade política e militar importante, acusou os armênios de rebelião e disse: “Se os rebeldes dispararem um único tiro, eu vou matar cada homem ou mulher e (apontando para o joelho) todas as crianças, até esta altura.”

Seis dias depois deste acirramento de ânimos, em 24 de fevereiro de 1915, dois homens armênios foram mortos depois de auxiliarem uma mulher que estava sendo perseguida por soldados otomanos mal intencionados. 1500 defensores armados com 1000 pistolas e 300 fuzis protegeram a população de 30.000 residentes e 15000 refugiados que já migravam de perseguições em cidades vizinhas. O conflito durou até que o Império Russo, arqui-inimigo do Império Turco Otomano, viesse resgatar essas populações com o interesse de aumentar sua influência nesta região.

Esse evento começou em 1915, mas desde antes havia toda uma propaganda contra os armênios. Os armênios eram acusados de trazer desordem ao Império e de nutrir amizade com potências inimigas, muitas vezes retratados nessas propagandas como traidores que matavam autoridades políticas no Império Turco-Otomano e auxiliando os inimigos a conquistar pedaços da nação. 

Meses depois do episódio em Van, em 24 de abril de 1915, ocorreu o chamado Domingo Vermelho em que 250 intelectuais e autoridades políticas armênias foram presas, deportadas para o interior e terrivelmente assassinadas. Esse episódio foi colocado entre pesquisadores e estudiosos como o começo de um dos primeiros genocídios modernos. 

Os massacres

No Julgamento de Trebizonda, vários testemunhos e provas foram colocadas com relação aos massacres que ocorreram contra a população armênia de 1915 a 1918. Os relatos mostram que a tentativa de exterminá-los foi feita de várias maneiras: 

  1. Incêndios

Eitan Belkind, um espião palestino com apoio inglês infiltrado no exército otomano, relatou ter testemunhado pelo menos 5.000 pessoas sendo queimadas vivas. Esse testemunho poderia estar mal intencionado, mas não faltam testemunhos e evidências sobre esse tipo de eliminação. Mais de 18 páginas foram apresentadas nos julgamentos posteriores. Muitos oficiais de patentes menores citam que era a maneira mais rápida e eficiente de lidar com populações de mulheres, crianças e idosos que estavam em campos de trabalho ou que não havia escolta para a deportação. Mesmo entre populações civis turcas há vários testemunhos sobre o odor terrível de carne humana queimada e das visões terríveis dos ocorridos.

  1. Afogamentos

Várias populações armênias foram abarrotadas em barcos para cruzar o Mar Negro ou descer o Rio Eufrates. E embora não abundam relatos sobre afogamentos, até porque não sobraram muitas pessoas que sobreviveram aos processos de marcha e exílio, há fortes evidências de que pessoas foram jogadas em alto mar para se afogarem. Encarregados de portos, muitas vezes de países como Canadá ou outros países, relatam que mais de três quintos dos embarcados sumiram durante as viagens marítimas e fluviais.

  1. Agentes químicos e biológicos.

Um dos episódios mais cruéis do Genocídio Armênio foi o uso de agentes químicos e biológicos para aniquilação das populações. Assim como os alemães décadas depois, vários médicos turcos usaram crianças e mulheres para testes médicos. Tanto na inoculação de drogas como morfina para poder ver as reações do corpo humano a quantidades exageradas e de doenças como a tifo para buscar entendê-la melhor. Os registros do envenenamentos de mulheres, crianças e até bebês de vários médicos e até da falsificação dos atestados de óbitos sobram testemunhos e evidências.

O uso de gás tóxico também foi amplamente utilizado. Assim como os incêndios, eram encarado como uma maneira mais rápida e eficiente de lidar com o problema armênio. Pelo menos duas escolas tiveram as crianças presas e gás inoculado na estrutura.

  1. Deportações

A chamada Lei Tehcir foi uma lei elaborada em 1915 para poder expulsar e confiscar todos os bens de populações consideradas perigosas para o Estado Turco-Otomana. Tanto as fontes dos inimigos como dos aliados do Império abundam de fontes com relação a isso. Era muito claro que o massacre estava mais do que legitimado pelo Estado, mas sistemático e organizado pelo governo.

Na época, o presidente Theodore Roosevelt considerou como “o maior crime de guerra” daquela época. Bem, ainda não tínhamos o Holodomor, o Holocausto e os vários massacres dos regimes socialistas. Taner Akçam, um historiador turco, estudou os telegramas e mensagens entre as autoridades governamentais e diz que é clara a intenção de não somente confiscar os bens e expulsar os armênios, mas para matar as pessoas. 

A chamada Marcha da Morte se insere nesse contexto. As populações desapropriadas e exiladas foram colocadas para andar até a cidade síria de Deir ez-Zoz. O exército escoltou o longo caminho no deserto que os armênios foram obrigados a fazer. Ficou bem claro a total falta de água ou comida, tanto na marcha quanto na cidade, além de nenhuma estrutura para recebê-los. O caminho no deserto sem água, comida ou proteção, em si, deixou um caminho de cadáveres que era diariamente relato em jornais do mundo inteiro. 

“Naturalmente, a taxa de mortalidade por fome e doença foi muito alta e aumentou com o tratamento brutal das autoridades, cuja relação para com os exilados, conduzindo-os para o deserto, não é oposta à de mercadores de escravos . Com poucas exceções, nenhum abrigo de qualquer tipo foi fornecido e as pessoas provenientes de um clima frio são deixadas sob o sol escaldante do deserto, sem comida e água. Alívio temporário só pode ser obtido por poucos capazes de subornar funcionários” a notícia do York Times era corroborada por um general alemão, aliado dos turco-otomanos, que deixou claro: “A política turca de causar a fome é uma prova muito óbvia de que a Turquia está decidida a destruir os armênios”.

Franz Gunther, alemão e responsável pela construção de uma estrada de ferro na região, fez e mandou várias fotos do que acontecia para seus diretores pedindo para ser remanejado, pois não suportava ficar em silêncio diante de tal “crueldade bestial”.


E essa crueldade bestial não era somente matar de fome, sede e calor em uma marcha pelo deserto. Roubos, assassinatos e estupros não somente eram permitidas pelo exército turco que os escoltava como, muitas vezes, eles participavam do processo

Visibilidade no século XXI

A Turquia nega o ocorrido. A nação alega que além do exagero dos números, na casa dos milhões de mortos, alega que não havia nenhuma intenção das autoridades de matar os turcos. Que houve mortalidade, mas era inevitável em um contexto de guerra e que as ações tomadas pelo Estado foram para proteger a soberania nacional.

Vinte e nove países, incluindo o Brasil, reconhecem o Genocídio Armênio. A Alemanha chegou a emitir um comunicado oficial em que reconhece que agiu como corresponsável pelos massacres. O papa Francisco I classificou oficialmente esse evento como genocídio diante da Igreja Católica.

Com relação ao quiz passado do vídeo sobre a Joana Darc, o gaulês que é colocado junto com outras grandes personalidades francesas é Vercingetorix, um general que resistiu aos avanços de Júlio César e deu muito trabalho para os romanos dominarem a região.